Wednesday, July 18, 2007

VIAGEM AO CENTRO DE MIM

Não espero nada de ti...
Que incendeies no Sol de Setembro
Que enchas cestos do desbaste da vinha
Que combatas dragões por mim
Ou persigas, incansável, moinhos de vento
Que com grinaldas me coroes rainha
Que seja cúpula na tua torre de marfim.
Permanecendo imóvel no centro
Das espirais que traço sozinha
Sei não seres o que diz que sim
Trazes rugas da eternidade do tempo
Espremem-se as uvas e resta a grainha
Como era o princípio assim seja o fim

Não espero nada de ti...
Que a chuva seja ainda assim quente
Que seja eterna a carne do abraço
E se esconda a coisa mais querida
Na caixa da Lua no quarto crescente
Os montes. Extraímos o engaço
e da uva fermentada quis-se bebida
E sonhamos sob a estrela cadente
Farol de Alexandria do nosso cansaço
Não espero que sejas fruta mordida,
Dês palavras ao meu silêncio dormente
Sejas a paisagem por onde passo
Ou filtro da superfície áspera da vida

Não espero nada de ti...
Que sejas fluido e venhas solto
Em passos deslizantes a verter
Nevando contra o molde da filosofia
E equilibro o controlo e abondono
Dos gestos maiores que o teu ser
Desenha numa perpétua acrobacia
O teu gosto. Quase vinho, ainda mosto
Não espero que consigas entender
Que é na terapia que renasce a fobia
E me beijes e leves o sal do sonho
E haja pontes do que há-de haver
Raios coerentes difractados em poesia

Não espero nada de ti...
A planta que desperta no interior
Sorri ao reconhecer a Aurora
Ainda sem nunca lhe ter pertencido
Tocam alaúdes. Acorda o trovador
E eu sou esta. Aquela que não chora
Quando em vez da musica ha ruído
Na primeira procissão vai no andor
O santo de que sou fiel adoradora
Um credo fixo é credo falso sentido
E por isso, entre outras coisas, meu amor
Não espero que sejas aqui e agora
Na poeira cósmica do recém-nascido





Echo & The Bunnymen

Saturday, June 30, 2007

TEORIA DA REMINISCENCIA

Talvez exista e tu tenhas a explicação,
Porque se falha, mesmo tudo tendo...
A fragilidade das coisas do coração
Dirás, talvez, é propicia ao abatimento

Caminhos as vezes divergem. Outras não
E eu, pouco dada á lógica do pensamento
Ouço-te e lembro-me do que dizia Platão
Que "Todo e qualquer conhecimento

é a lembrança de um estado anterior"
Aprender é somente recordar a verdade.
Este trilho é o que me leva a esquecer-te,

Ou é o caminho que conduz ao nosso amor?
Acabada a lembrança resta a eternidade,
Quem me dera ter-me afogado no rio Lethe...



SMOKE CITY





Monday, June 25, 2007

ALQUIMIA

Brilhavas quanto te vi
A entrada da poesia
Esperando por ti,
Quem eu ja conhecia...

Tu sorriste e tremi
Senti a nossa alquimia
no elixir que eu bebi
criado pela tua energia

Nos fomos feitos
um para o outro
Nem sei o que me deu

Somos perfeitos
O que te der e pouco
Sou toda tua e tu es meu



André Sardet

A VIRGEM DAS AGUAS

Hoje a minha alma deseja
ser presa e acorrrentada
Vestir um corpo que beija
Despir a palavra assustada

Hoje a alma voa e rasteja
E se no final for precipitada,
e o que sentes nada seja
ainda assim quero esse nada

As feridas que me fez a vida
Imagens desgastadas pela magoa
Derramo-as em ti, no teu lago

Alma transparente. Renascida
Purgada e santificada na agua
pura e imaculada do teu afago...


Thursday, May 24, 2007

O PEIXE AZUL

O passado existe e persiste
Enquanto eu pensar e lembrar
Daquele dia em que me pediste:
Amor, e tarde... Vem-te deitar...

O passado resiste e insiste
Enquanto eu sonhar e recordar
Daquela vez em que descobriste
Um peixe azul no fundo do mar

Eu quis deitar-me a teu lado
Mergulhar e ser o teu peixinho
Ter um oceano a descobrir

O presente e nosso passado
Eu sozinha. Tu sozinho
Ha uma ponte a construir...


Monday, April 23, 2007

NÃO ABRAS OS OLHOS SE QUERES DORMIR

Um dia a jovial hipocrisia
Deslocou-se até à cidade
Onde dizem que existia
Um templo da verdade

Ela imaculada se sentia...
Respirar e ser dignidade.
Chegou fresca à freguesia
Segura da sua moralidade.

Ignorou no pórtico as hienas
que lhe gritavam o conselho:
"Não vejas... Finge apenas..."

Na câmara principal, um espelho.
Mirou-se. E chocada viu antenas.
Nunca humana. Só escaravelho


Franz Ferdinand

PARÁBOLA DA OVELHA DESGARRADA

Que existe ali adiante?
É longe, mas tenho fome...
Pensou uma ovelhinha ignorante
Tão insensata, que já corre

Agora tem ervinha abundante,
Enche a barriga, ovelha. Come!
O rebanho está distante,
Mas que isso não te importe.

És a ovelha e não o pastor.
Cabe a ele te encontrar
E a ti apenas ser achada

Não te pune. Dá-te amor,
E sorri franco ao recuperar
A sua ovelha extraviada.


"Se um homem possui cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa ele as noventa e nove nos montes e vai à procura da extraviada? Se consegue achá-la, em verdade vos digo, terá maior alegria nela do que nas noventa e nove que não se extraviaram" Mateus,18:12-14

'myspace